A sedução da Igreja Local
Por Natanael Rinaldi
O crescimento da fé evangélica no Brasil,
publicado em 2002 pelos órgãos de pesquisas, rendeu comentários na televisão,
nos jornais e até em capas de revista. É do conhecimento de todos que essa
“massa evangélica” é constituída de várias denominações que compartilham dos
mesmos conceitos doutrinários, o que promove uma comunhão sincera entre as
mesmas. Assim, é muito comum nos depararmos com circunstâncias em que
identificamos um irmão em Cristo e perguntamos: qual é a sua denominação?
Para os membros da Igreja Local, isso é
antibíblico. Eles têm aversão a esse tipo de pergunta. De fato, uma indagação
como essa, quando direcionada aos membros da Igreja Local, é interpretada como
uma ofensa. O indagador recebe deles uma pronta resposta: “As igrejas locais
não têm nome. O único nome que ostentamos e honramos é o nome do Senhor Jesus
[...] O termo igreja local não é um nome [...] Imprimir as palavras igreja
local com letras maiúsculas é um erro sério, pois isto dá a impressão de que o
nome é igreja local”.1
O que é o localismo?
O empenho deles é notório em esclarecer que
Igreja Local não é um nome denominacional. Para eles, tal “expressão” está
relacionada a “um grupo de crentes, membros vivos de Cristo”,1 que “não
pertencem a nenhuma denominação”. Entretanto, os fatos testificam que eles
possuem registro de pessoa jurídica, como qualquer outra denominação ou
instituição religiosa. E eles mesmos confirmam isso: “No que diz respeito às
questões financeiras, as igrejas locais estão legalmente registradas com
relação ao governo”.2
Novamente, perguntamos aos membros desse
grupo: “Qual é o nome de sua denominação?”. Quando a insistência da indagação
exige um parecer, a resposta é indefinida, informando o nome da cidade em que a
igreja se localiza: “A igreja que está em São Paulo” ou “a igreja que está em
Belo Horizonte” e, caso sejam interrogados sobre o porquê da ausência do nome
denominacional (o que quase sempre acontece) a resposta que se obtém é que as
denominações são divisões e, como tais, geram divisões, por isso, segundo eles,
só deve existir uma igreja em cada cidade com o nome da própria cidade. E,
segundo ainda afirmam, todo cristão genuíno deve unir-se a essa igreja local
com o nome da cidade.
A explicação é a seguinte: se você está em
Santos e necessita mudar para São Paulo, por exemplo, não precisa se preocupar
quanto a que igreja deve congregar, como ocorreria com todos os membros das
divisões, ou seja, das denominações. Ensinam os líderes da Igreja Local: “Você
irá à igreja daquela cidade, à igreja local”. E o que estará fazendo a pessoa
que entrar em qualquer outra igreja que não seja a local? Deixemos o fundador
da Igreja Local, Witness Lee, responder: “Se você entrar em qualquer outra
coisa afora a igreja local daquela cidade, entrará numa divisão”.3 Desta forma,
os líderes advertem aos membros da Igreja Local a não manterem relações com os
crentes denominacionais, mas fidelidade incondicional à sua igreja.
Mas o ataque às igrejas evangélicas não pára,
e atinge também os católicos. “Hoje em dia há principalmente dois tipos de
crentes: um deles é formado pelas denominações, incluindo a Igreja Católica
Romana, e o outro é composto daqueles que estão fora das divisões (leia-se
denominações, grifo nosso) e sobre a base correta”.4 E como os localistas
enxergam aqueles que fazem vista grossa a esta doutrina? Vejamos: “Não tente
ser neutro. Não procure reconciliar as denominações com a igreja local. Você
nunca conseguirá reconciliá-los. Você consegue reconciliar branco com preto?
Sim, mas serão cinza; nem preto nem branco”.5
Qual é o principal alvo da Igreja Local?
Arrebanhar os membros das denominações
evangélicas. O alvo dos localistas são os evangélicos. É essa a tática de
evangelização empregada pela Igreja Local. E, (atenção!) para obterem êxito
nesse propósito, lançam mão de acentuado proselitismo: “Damos boas-vindas a
todos os verdadeiros crentes e buscamos comunhão com eles como nossos irmãos e
irmãs em Cristo”.6
Quando o objetivo é desarraigar o evangélico
de sua “divisão” (ou seja, denominação), os localistas são amáveis, não dá para
acreditar que por trás de tanta simpatia se esconde a intenção de nos tornar
membros de sua igreja.
Superficialmente, a afirmação deles é afável:
“buscamos comunhão com eles como nossos irmãos em Cristo”. Mas acrescentamos:
“essa comunhão, porém, só é possível se os irmãos abandonarem suas denominações
e ingressarem na Igreja Local”.
A dissimulação dos membros da Igreja Local
permite que penetrem nas igrejas evangélicas para vender a literatura de
Witness Lee, editado pela Árvore da Vida. Isso ocorre principalmente com a permissão
de pastores evangélicos que desconhecem o movimento, e, infelizmente, não são
poucos.
Um passado desfavorável
Parece antagônico, mas é possível definir a
Igreja Local como uma facção antidenominacional. Não obstante a toda essa
repulsa em relação às denominações evangélicas, a própria Igreja Local nada
mais é do que uma dissidência de outras igrejas.
Witness Lee foi grandemente influenciado pelo
pastor Watchman Nee. Membro da Igreja dos Irmãos de Plymouth,
Watchman Nee separou-se dessa igreja para criar o seu próprio grupo: “O
Pequeno Rebanho”. Witness Lee chegou a presidir algumas comunidades da
igreja do pastor Nee. Os anos se passaram e, depois da prisão de Nee, Lee criou
o seu próprio grupo com suas estranhas doutrinas, levando muitos membros da
igreja com ele.
Ora, será que Lee não considerou seu próprio
passado ao ensinar suas doutrinas? Historicamente, a Igreja Local é uma divisão
de duas outras denominações. A própria história do grupo serve para combatê-la
e reprová-la.
Igrejas evangélicas: organizações de Satanás
Quando não conseguem margem para efetuar seu
proselitismo, os membros da Igreja Local revelam seus julgamentos sobre os
evangélicos, e declaram: “Visto que a ‘Mãe das Prostituições’ é a Igreja
Apóstata, as prostitutas, suas filhas, devem ser todas as diferentes facções e
grupos do cristianismo que mantêm, até certo ponto, o ensinamento e as práticas
e tradições da Igreja Romana apóstata”.7
Ora, se a Igreja Católica é tida como a “Mãe
das Prostituições”, quem são as “filhas prostitutas”? Segundo a lógica deles,
são as igrejas evangélicas ou denominacionais. Perguntamos, então: como manter
um clima de cordialidade e respeito mútuo com os localistas?
“Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” (Am 3.3).
Sendo mais contundentes, escrevem no livro
“Apocalipse, versão restaurada”: “O catolicismo romano e o protestantismo,
assim como o judaísmo, estão todos nessa categoria, tornando-se uma organização
de Satanás, como seu instrumento para danificar a economia de Deus”.8
Heresias de perdição
Como podemos observar em nossa última citação
“As igrejas evangélicas são organizações de Satanás”. “Jesus foi corrompido por
Satanás por meio de sua encarnação”. “Satanás habita no corpo do homem”.
Três contundentes e errôneas afirmações doutrinárias.
Assim, percebemos que a Igreja Local não pode,
em nenhuma hipótese, ser considerado um movimento evangélico, pelo menos não
genuinamente. O apóstolo Pedro já nos precavia sobre isso: “E também houve
entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá também falsos doutores, que
introduzirão encobertamente heresias de perdição, e negarão o Senhor que os
resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina perdição” (2 Pe 2.1).
Vejamos as declarações de Witness Lee: “Por
isso, o homem tem não só a vida e a natureza de Satanás, mas também o próprio
Satanás como tal espírito maligno operando dentro de si”.9
“Agora, todos eles estão em nós. Adão, o ego,
está na nossa alma; Satanás, o diabo, está em nosso corpo; e Deus, o Deus Triúno,
está em nosso espírito”.10
Satanás habita dentro dos cristãos? Não. Diz a
Bíblia: “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que
habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1Co 6.19).
Como Witness Lee pôde conceber tamanha
heresia?! Se o corpo do cristão é o templo do Espírito Santo, como pode, ao
mesmo tempo, ser habitação de Satanás? A Bíblia nos dá exemplos de homens que
tinham relação com Satanás, mas esses homens não eram cristãos, absolutamente.
Judas, o que traiu Jesus, era contado entre os doze apóstolos, mas,
infelizmente, tornou-se habitação de Satanás: “Entrou, porém, Satanás em Judas,
que tinha por sobrenome Iscariotes, o qual era do número dos doze” (Lc 22.3).
Como podemos ver, não é necessário muito
esforço para percebermos os malefícios que os ensinamentos da Igreja Local
podem causar na Igreja do Senhor. Mas o teor de heresias localistas consegue
ser mais profundo. Declaram que o próprio Jesus estava na mesma situação que
nós ao tornar-se homem (ou seja, ao tomar o corpo humano): “Quando Deus se
encarnou como homem, o tipo de homem com que Ele se vestiu era um homem
corrompido por Satanás. O homem, na época da sua encarnação, já não era mais um
homem puro, mas um homem arruinado, corrompido por Satanás...”.11
Perguntamos:
é esse Jesus que os evangélicos seguem? Não!
Obviamente, a Igreja Local serve a outro
Jesus, completamente estranho ao que é apresentado nas Escrituras. A respeito
do nosso Jesus, a Bíblia diz: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com
Deus, e o Verbo era Deus. E o Verbo se fez carne, habitou entre nós, e vimos a
sua glória como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo
1.1,14).
O texto bíblico fala de um Jesus que não se
corrompeu ao tornar-se humano. Fala de um Jesus santo, imaculado, separado dos
pecadores, feito mais sublime que os céus (Hb 7.26). Fala de um Jesus que, como
nós, em tudo foi tentado, mas não pecou, era sem pecado (Hb 4.15).
Não se pode dar outra designação aos ensinos
de Witness Lee: são “heresias de perdição”. Devemos nos afastar de tais
ensinos!
Um alerta aos evangélicos
Que se previnam e tomem muito cuidado com as heresias
da Igreja Local. Devemos nos aproximar deles apenas com o objetivo de lhes
pregar o verdadeiro Cristo. Infelizmente, pelo uso que fazem do nome de
Watchman Nee, muitos cristãos têm abandonado suas igrejas e ingressado no
movimento de Witness Lee, acreditando que, desta vez, encontraram a “verdade”.
Os membros da Igreja Local possuem um sério
compromisso com a organização a que pertencem. O exclusivismo que ostentam
discrimina tudo e todos, mas eles ainda não conhecem o verdadeiro Jesus, o
Jesus da Bíblia, aquele que é o caminho, a verdade e a vida (Jo14.6).
O apóstolo Paulo disse que a verdade está em
Jesus (Ef 4.21), e não em uma organização religiosa que afirma que todas as
igrejas apostataram e que ela, a organização, e somente ela, possui a “verdade”.
Amados irmãos, tomem muito cuidado com eles!
Notas:
1 Idem.
2 Idem, p. 17.
3 A visão da igreja, pp 10,11.
4 A expressão prática da igreja, p. 128.
5 Idem, p. 115.
6 O que cremos e praticamos nas igrejas locais, p. 4.
7 Apocalipse (versão restaurada), p. 107.
8 Idem.
9 Lições da verdade, nível um, p. 13.
10 A economia de Deus, p. 190.
11 O homem e as duas árvores, p. 9.